Na vida cotidiana da indústria, a tecnologia de automação assume tarefas típicas, como manusear, mover e posicionar mercadorias, assim como controlar e regular processos. A indústria 4.0 ou quarta revolução industrial traz soluções tecnológicas que estão reinventando as dinâmicas empresariais para que elas sejam mais sustentáveis e eficientes.
Em tempos de digitalização acelerada, mais do que nunca, é necessário que gestores foquem na colaboração e cooperação entre homem, máquina e sistemas.
Um exemplo disso é o desenvolvimento de produtos com pegada de carbono reduzida, na tentativa de tornar a indústria mais sustentável. Para que a meta do Acordo de Paris (limitar o aumento médio da temperatura global a 1,5 °C) seja atingida, as emissões de CO2 devem ser reduzidas drasticamente até 2030.
E, até 2050, devem chegar a zero líquido, ou seja, o CO2 emitido deve ser compensado por mecanismos que absorvem gás, como plantio de árvores ou tecnologias que capturam o gás e o armazenam no subsolo.
No setor sucroenergético vemos nas iniciativas de indústria 4.0 uma oportunidade-chave para fortalecer a competitividade do Brasil, mas também de impactar toda a sociedade.
Estamos em uma jornada sustentável construída com base em três pilares: eficiência energética, flexibilidade energética e economia circular.
A energia é um dos itens mais importantes dentro da atividade industrial, e um dos principais motivos para isso é que boa parte dos custos de produção são afetados diretamente pelo seu consumo.
Nesse sentido, as tecnologias de eficiência energética e sua aplicação na produção, em que vários circuitos de calor e eletricidade são empregados para reduzir ao máximo a necessidade de energia dentro da fábrica, podem promover redução de até 40%.
Flexibilidade energética na indústria é a capacidade que uma planta tem de produzir, fornecer e armazenar sua própria energia. Ao redor do mundo vemos inúmeros exemplos de fábricas fazendo isso, seja por energia solar, eólica ou por queima de gás ou biomassa proveniente de seus processos produtivos. Prova disso é o bagaço da cana-de-açúcar, que é usado para geração de bioeletricidade, o que garante a autossuficiência energética das antigas usinas de cana-de-açúcar – que hoje são parques de bioenergia.
Economia circular é um conceito estratégico em que os resíduos são insumos para a fabricação de novos produtos. No setor sucroenergético esse conceito está presente em diversas fases dos processos produtivos, como na produção de etanol de segunda geração, na reutilização da água da própria cana-de-açúcar no processo, na utilização dos resíduos industriais como fertilizantes no campo, entre outras iniciativas.
Um dos temas que vem ganhando cada vez mais força dentro do mundo da tecnologia, e que trouxemos para a indústria 4.0, é a questão da interoperabilidade.
Ela pode ser entendida como a capacidade de diversos sistemas e organizações trabalharem em conjunto (interoperar), de modo a garantir que pessoas, organizações e sistemas computacionais interajam para trocar informações de maneira eficaz e eficiente.
Dados podem atravessar fronteiras, para que possamos trabalhar juntos. Atualmente, temos a possibilidade de conectar as instâncias da produção, como máquinas, objetos, pessoas, sistemas de fabricação.
Podemos conectá-las e ter dados em tempo real, e todas essas instâncias podem interagir. Assim, uma interação homem-máquina- sistemas pode criar algumas das cadeias de produção mais dinâmicas e auto-organizadas já feitas pelo homem, e podemos otimizar essas cadeias de produção de acordo com as metas que estabelecemos.
Na minha opinião, o verdadeiro propósito da indústria 4.0 é criar um futuro para as próximas gerações. Componentes inteligentes e seus gêmeos digitais já permitem projetar, configurar e simular fábricas inteiras. Em um futuro próximo poderemos otimizar montagem, produção e operações em andamento a partir do mesmo projeto com inteligência artificial. A IA é o capacitor que leva a automação da fábrica a um novo nível de eficiência. Vamos precisar cada vez mais de inteligência artificial e da digitalização para enfrentar os desafios do futuro, seja para inteligência energética industrial, análises de controle e segurança de alimentos ou até para cálculo e monitoramento total das emissões de CO2 que a atividade está produzindo. O caminho para um futuro sustentável passa pela indústria 4.0.
- Por Juliano Oliveira, Diretor Industrial Corporativo da Raízen. Na companhia, é o responsável pela governança dos processos industriais, implementação dos projetos renováveis e do SER+ (Sistema de Excelência da Raízen) na indústria. A iniciativa é focada na eliminação dos desperdícios, segurança e eficiência nas operações e fortalecimento da cultura organizacional de maneira padronizada.